3 - RVIIA - VIDA ESPIRITUAL DA CONGREGAÇÃO MARIANA


A) Notas características da espiritualidade mariana

13. O centro da espiritualidade própria do Congregado Mariano é a busca permanente de viver a "radical novidade cristã que promana do Batismo" (CL, 10J, a qual leva o fiel à participação na vida divina pela Graça, à união pessoal com Cristo e com seu Corpo que é a Igreja e à vida espiritual marcada pela unção e ação interior do Espírito Santo (Ibid.). Sua primeira e fundamental vocação é a santificação pessoal através da oração e da vida sacramental, sobretudo da Eucaristia, da caridade apostólica e da prática das virtudes cristãs, dócil à ação interior do Espírito Santo que o leva ao seguimento e imitação de Jesus Cristo, vivo e atuante em sua Igreja (CL, 16). Mas tudo isso conforme a índole secular própria de sua condição de fiel leigo, inserido nas realidades temporais e participando como cristão das atividades inerentes a seu estado de vida e trabalho social (CL, 17).

14. Esta espiritualidade do Congregado Mariano, comum a todo fiel leigo, se distingue pela marca mariana, uma vez que a Congregação Mariana "não somente assume o título da Bem-aventurada Virgem Maria, mas principalmente porque seus membros professam uma singular devoção à Mãe de Deus e a Ela se ligam por uma total consagração" (BS, 24). Assim, o seguimento de Cristo assume para o Congregado Mariano um incentivo e proteção, um modelo e uma dimensão eclesial que decorrem do amor e devoção especial à Virgem Maria. O sinal desta marca mariana é a Consagração a Nossa Senhora, "uma doação de si mesmo, realizada não por mera formalidade ou sentimento, mas expressão de uma intensidade de vida cristã e mariana, manifestação ''' de uma vida interior pujante, e se desdobra em obras exteriores de sólida devoção, de culto, de caridade e de zelo" (AL, 2).

15. A devoção mariana do Congregado Mariano não deve ser "uma piedade mesquinhamente interessada, que vê na poderosa Mãe de Deus somente a distribuidora de benefícios, sobretudo de ordem temporal, uma devoção de seguro repouso que não pensa senão em remover da própria vida a cruz dos trabalhos, lutas e sofrimentos. uma devoção sensível de doces consolações ou de meras manifestações de entusiasmo, uma devoção, por mais santa que possa parecer, exclusiva e mais preocupada com as desvantagens espirituais" (AL, 4). Deve ser, antes de tudo, uma consciência viva e atuante da condição de filho da Virgem Maria, um empenho em seguir e imitar seus exemplos de Fé, de Esperança e de Caridade, uma adesão fiel e amorosa ã Igreja de Cristo da qual a Virgem Maria antecipou o mistério da maternidade virginal, foi, em sua vida a figura que a precedeu na ordem da Fé, da Caridade e da perfeita união com Cristo (LG, 63) e, na Glória, antecipou-lhe a realização definitiva (LG, 59; RM, 6 e7).

16. Assim, o Congregado Mariano deve amar a Virgem Maria e n'Ela confiar como Mãe, agradecido a Cristo que, na cruz. lhe deu a própria Mãe por sua Mãe, criando entre a Virgem Maria e ele aquela relação única e irrepetível entre duas pessoas: de mãe para seu filho, de filho para sua Mãe" (RM,45). Filho da Virgem Maria, o Congregado Mariano há ter sempre presente que sua Mãe Santíssima, assunta ao céu em sua glória, pela luz que recebe da visão beatífica. o conhece distintamente em todas as circunstâncias da vida e, no mais íntimo de seus pensamentos, o ama e lhe manifesta a solicitude materna de seu Imaculado Coração de carne, rico de sensibilidade humana e repleto do amor para com Deus, acompanhando-o, protegendo-o e guiando-o para o amor, a imitação e o serviço do Filho Divino.

17. Para o Congregado Mariano, a Virgem Maria deve ser o modelo "cuja peregrinação na fé representa um ponto de referência constante para a Igreja e cada pessoa" (RM, 6). Na Virgem Maria ele há de ver o modelo de fé e vida interior, de pureza imaculada, de docilidade à ação do Espírito Santo, de obediência à voz de Deus que A associou intimamente ao mistério da salvação realizada por seu Filho Divino, de humildade e generosidade no cumprimento da missão recebida de Deus, de ardente zelo missionário em levar o Filho Divino a todos que Deus colocou em seu caminho: João Batista, os pastores de Belém, os sábios do Oriente, os justos de Israel, os discípulos de Jesus nas bodas de Caná.

18. A Virgem Maria, no seu mistério e na sua vida, revela ao Congregado Mariano o próprio mistério da Igreja. Consagrado à Virgem Maria, ele se torna, de fato, um consagrado a Cristo e sua Igreja! Fiel aEla, a sua doutrina e a seus Pastores, n'Ela encontrando a seiva da Graça divina pela vida sacramental e a oração no Corpo Místico de Cristo, se entrega feliz e devotado ao serviço da Igreja pelo trabalho apostólico em favor dos irmãos e dos que estão longe do rebanho de Cristo.

19. A espiritualidade mariana se realiza não somente nos atos de piedade próprios da devoção à Virgem Maria, mas exige do Congregado Mariano uma vida de oração pessoal, alimentada pela leitura da Sagrada Escritura e a meditação dos mistérios da vida de Cristo e de Maria, uma vida eucarística profunda, manifestada no amor a Cristo presente entre nós no Santíssimo Sacramento e na recepção frequente e, se possível, diária, da Sagrada Comunhão, uma docilidade interior à ação do Espírito Santo pela prática do exame de consciência diário e do discernimento espiritual, da oração de louvor de ação de graças, da abertura humilde às graças e dons com que este mesmo Espírito Santo se manifesta em sua vida, a exemplo da Virgem da Anunciação e do Magnificat.

B) Exercícios de piedade próprios da congregação mariana

20. A vida de piedade do Congregado Mariana se manifesta em alguns exercícios pessoais que se tornaram tradicionais, recomendados pelas antigas Regras Comuns, e continuam plenamente válidos realizados conforme as possibilidades e a moção interior do Espírito Santo em cada um. Assim, o Congregado Mariano diariamente deve, "ao levantar-se, fazer breves atos de Fé, Esperança e Caridade, dar graças à Divina Majestade pelos benefícios recebidos e oferecer-lhe todo o seu dia, em união como oferecimento eterno do Coração Santíssimo de Jesus, invocar a Virgem Maria, renovando sua Consagração a Ela, dar um tempo, durante o dia, à oração mental, rezar o Terço de Nossa Senhora e, ao deitar-se, fazer um pequeno Exame de Consciência com um fervoroso ato de contrição pelas faltas cometidas durante o dia" (RC, 34). É igualmente, recomendável a leitura e meditação da Sagrada Escritura, como alimento fundamental da vida de oração, e, para os que o puderem, recitar, em união com o louvor oficial da Igreja, o Ofício Divino da Liturgia das Horas.

21. É recomendável que cada Congregado Mariano tenha um confessor certo e "a ele manifeste, com toda sinceridade, o estado de sua consciência e por ele se deixe guiar e dirigir em tudo que respeita à vida espiritual" (RC, 36), e se aproxime frequentemente da Confissão Sacramental (RC, 37) e, ao menos uma vez ao ano, por ocasião do Retiro Espiritual, faça a Confissão Geral (RC, 39).

22. O Congregado Mariano tenha como feita a si, de modo especial, a exortação da Igreja à Comunhão frequente, e não se contente de receber o Pão Eucarístico em dias especiais, mas procure aproximar-se com frequência e, se possível, diariamente, na Santa Missa, do Sacramento da Santa Eucaristia (RC,39).

23. Deve o Congregado Mariano participar, com fidelidade e entusiasmo, dos atos de piedade promovidos pela Congregação Mariana, por exemplo, das orações próprias das reuniões ordinárias, das Santas Missas em comunidade, dos atos de culto e das manifestações religiosas públicas, dos encontros de oração, dos dias de recolhimento e formação espiritual, das romarias aos Santuários da Virgem Maria e outros.

24. Em especial, deve o Congregado Mariano participar anualmente, do Retiro Espiritual fechado ou, pelo menos, aberto, promovido pela Congregação ou a Federação Diocesana, segundo o método dos Exercícios Espirituais de Santo Inácio de Loyola, convencido de que este é um meio comprovadamente eficaz, recomendado pela Santa Igreja e tradicional nas Congregações Marianas, para reformar e afervorar a própria vida espiritual, criar o hábito da oração mental e do discernimento espiritual da ação do Espírito Santo em seu interior, para aprender a conhecer, seguir, amar e imitar a Jesus Cristo (RC, 9).

25. A espiritualidade dos Exercícios Espirituais de Santo Inácio de Loyola é tradicional e característica na vida das Congrega Marianas desde seus começos. Por isso, além da prática anual do Retiro Espiritual pelo método inaciano, é muito recomendável a promoção de iniciativas para melhor conhecimento pelos Congregados Marianos desta espiritualidade e a preparação de Diretores que possam dirigir o Retiro Espiritual segundo este método.

26. Procure cada Congregação Mariana, na medida das possibilidades, promover periodicamente celebrações marianas especiais, sempre de acordo com o Pároco ou com os responsáveis pelas Igrejas em que se realizarem. Estas celebrações deveriam ser feitas sobretudo nas festas litúrgicas da Virgem Maria. na festa do Santo Padroeiro que é seu título secundário, no Dia do Congregado Mariano, terceiro domingo de maio (RC, 10 e 11).